sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Pâmela

Nasci pra ser sozinho
Nunca paro num lugar
Por mais que a vida inventa
Tem um mal que me atormenta:
É a porra do azar.

Nasci pra ser sozinho
Nasci para jogar
Ganhei do mundo inteiro
Só não consegui dinheiro
E um alguém pra me amar.

A terra virou lama
Aqui vou afundar
O amor é traiçoeiro
Atormenta o dia inteiro
E a noite faz chorar.

A pan-americana
Que hoje me faz sofrer
Não foi minha primeira
Aventura passageira
Mas sua falta faz doer.

É planta ainda rasteira
Não brota e nem dá flor
Enquanto cai orvalho
Eu daqui corto o meu baralho:
Espero a sorte, o seu amor.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Desespero

Quando o sono vem
Controlo a respiração
Com os olhos fechados.
Pernoito insano
Como fumaça que se dissipa
Num dia chuvoso.

E eu quero voltar...
Voltar e mudar os fatos
Como se voltar resolvesse tudo.
E eu te amo...
E estou sem ti agora.

Quando o sonho vem
Os olhos fechados
Não vêem a verdade.
Não vejo o outro lado,
Só vejo a ti...
Só consigo ver o que sinto.
E eu te amo...
E estou sem ti agora.

Não vejo o outro lado
Mas isso não é tudo:
Vejo que o meu sonho é real
E eu te amo...
E não estou em ti agora.

Posso estar certo
Mas também posso errar.

O tempo acabou.
Os segundos passaram.
É tão difícil...
Um enigma complexo.

Eu reinava sobre um vale
Mas quando acordei
Fiz de tudo uma mentira
E não estou contigo agora.
Eu não estou contigo agora.

Eu não quero a realidade!
Eu detesto a minha realidade...

Posso estar errado
Mas também posso acertar.

sábado, 25 de dezembro de 2010

DOMVS RITÆ

Já deu meia-noite,
A hora é essa:
Preparem o Domus,
O rito e a reza.
É noite de sacrifícios,
Não de festa.
Por isso me movo;
Por isso te louvo!

A noite tem sonhos,
Doenças astrais.
Paixões dos humanos,
Doenças carnais.
O rito é o despejo
Do pecado mais voraz.
Por isso te quero,
Por isso te espero.

A manhã já espreita
Estreitam-se os laços.
O Domus se perde,
Não domo os meus atos.
Deus Sol, seja bem-vindo!
Mudaram-se os ritos:
Por isso eu choro;
A noite eu volto.

A dor é a ressaca...!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Castelo de Bênçãos

Numa noite mal dormida
Eu posso ser o que eu quiser,
Mas é só sonho, não é vida
Não importa o que eu fizer.

Noite passada fui um rei,
Tinha uma espada e um brasão.
Minha palavra era lei
Em um castelo de bênçãos.

Você finge entender
Se é loucura ou se é razão,
Como posso não saber
Se é só rancor e agressão?

Cada um fez de sua vida
Uma estrada de paixão
Um aeroporto de mentiras
Uma geada de verão.

Sou eu que decidirei
Se você merece compaixão:
O soberano de um reino
Em meu castelo de bênçãos.

Não há veneno na comida
Enquanto e sonho eu estiver;
É tão melhor do que a vida
Não importa o que eu fizer.

Com maravilhas eu sonhei
Desde o Egito até o Japão,
Com pesadelos eu chorei,
Promessas de um charlatão...

Você finge entender
Se é loucura ou se é razão,
Como posso não saber
Se é só rancor e agressão?

Cada um fez de sua vida
Uma estrada de paixão
Um aeroporto de mentiras
Uma geada de verão.

Sou eu que decidirei
Se você merece compaixão:
O soberano de um reino
Em meu castelo de bênçãos.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Ouço Vozes

Ouço vozes.
Dizem coisas absurdas:
Elas sempre me perguntam
Onde e como vou morrer.

Ouço vozes.
Ouço vozes, eu repito!
Ouço coisas que não posso
Escutar com os ouvidos.

Ouço vozes.
Que atormentam toda noite
Mas que passam todo o dia
A me entreter e alegrar.

Ouço vozes.
Elas chamam bem baixinho
Mas as vezes os seus gritos
Ensurdecem de assustar.

Ouço vozes.
Sempre quando estou sozinho
E é por isso que sozinho
Eu prefiro ser e estar.

Ouço vozes.
São fantasmas alienados
São cientistas deformados
Por que a vida não parou?

Ouço vozes.
Ouço todas as noites
Correntes e cadeados
Arrastados pelo chão.

Ouço vozes.
São perguntas respondidas
São promessas não cumpridas
Que prometo vez ou não.

Ouço vozes.
Mas maluco não sou não
Maluco é quem vive
Á estas vozes dizer não.

Ouço vozes.
Vozes roucas que ecoam
Vozes poucas que povoam
Esta louca mente sã.

Ouço vozes.
Ouço gritos e gemidos
São farrapos maltrapilhos
Esgueirando-se ao chão.

Ouço vozes.
Ouço odes ao fracasso
Com acordes dedilhados
De um mago fanfarrão.

Ouço vozes.
Ouço, grito, berro e uivo
Logo serro os meus pulsos
E respondo a tal questão.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Aborto

Que há de certo e errado
Entre as coisas da vida?
Que há de eterno num ser
Se tudo tende a falecer?

Olhe nos meus olhos,
Conte com sinceridade
Três coisas boas que fiz;
Três coisas proveitosas que falei.
Diga com sincera opinião
E por três vezes
Estará operando um milagre;
E será canonizado
Por ajudar um imbecil,
Um falsário moribundo
A não encarar uma triste realidade.

Que há de errado
Entre certas coisas da vida?
Que há de morto
Numa eternidade que não falha?

Olhando seus olhos
Descobri a única coisa errada
Que realmente fiz na vida.
Meu grande erro,
Meu único erro
Foi covardemente nascer.
Poderia eu ter abortado da vida,
Pois a vida para mim e por hora
Não passou de um grande aborto.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Eu Sou o Seu Pastor, e Nada me Faltará

Minha oração era como um choro...
Doía, e eu, sem mais, sentia.
Brotava como lírio,
Crescia como bambu,
Mas murchava feito rosa.

Dois mundos se chocaram
Quando os olhos se encontraram:
Olhos negros, grandes, esquecidos...
Olhar vazio, meigo, impreciso.

Quando busquei atalhos
Encontrei meu caminho.
És criança que ensina a crescer
És adulta de menor idade...
Doce rosa prematura, champanhe
Que em breve ira murchar.

Teus olhos acreditam piamente;
Os meus vêem que a verdade mente.
Cada qual suplica a vida aos teus deuses:
Um deus comum; qualquer um destes...

Consultamos livros;
Prorrogamos datas;
Discutimos orações;
Adormeci, insano!

Enquanto um, cansado, verte-se a chorar,
O teu, preciso, concentra-se em errar.
Olho feito boca que mastiga esfomeado
Idéias, pensamentos e verdades que invento.

Coloca-me uma postura
Que meu eu covarde seguirá.
Diga-me que foi bom ao fim...
Estraga-me em Jeová-Deus;
Amputa-me a opinião,
Estupra-me os pensamentos,
Esporra-me a tua doutrina:
A doutrina de esperar.

Acredite em minhas mentiras:
Amo o deus qual não creio,
Creio no deus qual não amo.

Corta-me as asas
E ensina-me a voar...
Molda-me o perfil,
Escolha-me as roupas.
Compra-me uma Bíblia:
A palavra do senhor!

Corta-me as asas
E ensina-me a voar;
Oh décimo quinto biz!
Após a queda, beija-me a testa:
Entrego-me ao teu mundo.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Fracassado

De que adianta ter pastas vazias
Cheias de bilhetes e cartas de amor
Sendo que apenas a dor acompanha
Minha vida cinzenta?

De que adianta
Ter dezenas de amigos
Se choro comigo
Sozinho no escuro?

Tenho tudo...
Não tenho nada.
Uma vida feita de triunfos...!
Falsos triunfos.

Vivo na cidade dos milhões
E converso com um rádio.
Choro sozinho
Agachado no escuro.

Quero morrer
Mas o que me mata é a covardia

Já reli velhas cartas
Já revivi amargas emoções.
Ainda preciso morrer.

Ninguém sentiria minha falta,
Sou facilmente substituído:
Simples demais para ser notado,
Ainda mais para ser esquecido.

Sobram os defeitos,
Carecem as qualidades.
Nunca fui alem de um setembro
Comecei em um janeiro...
Flores que murcham me fazem morrer?

Ainda desejo-te, Uriel!
Sombrio ceifeiro,
Anjo negro da morte.

Mamãe teria a apólice,
O mundo menos uma vida...
Um grande passo para a revolução!
Onde estão os meus amigos?
Onde estão meus amigos?
Onde estão?
Onde?
?

No dia em que me conhecer melhor
Saberei o que temo;
Temerei o que sei.
Mas, ainda sim serei simples
E continuarei querendo morrer.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Para Destruir Uma Vida

Valha-se de todo o ódio que existe em seu coração.
Deixe curtir por toda a sua miserável existência.
Junte a esse câncer toda a podridão de sua alma amaldiçoada.
Mexa com sua língua grande a mistura num caldeirão de magia negra.
Cuspa a vontade, mije se possível...
Diga treze blasfêmias e invoque o seu igual.
Fornique com ele, até que haja um feto pútrido e morto. Adicione-o na mistura.
Grite que matará e morrerá... Precisamos de energia negativa.
Se não for o bastante, sacrifique sua alma.
Minta o quanto julgar necessário.
Chore sangue, guarde e espere coagular. Beba, vomite e junte tudo, hermeticamente.
Faça um círculo ao redor do caldeirão, com terra velha de cemitério e pó de ossos humanos.
Certifique-se de que os urubus já estejam voando ao seu redor.
Cave com as próprias mãos a terra, formando um pentagrama com cinco retas.
Divida a poção em cinco partes e derrame-as nas pontas do pentagrama.
Passe a língua no chão para beber da sua própria miséria...
Os pedaços, enfie todos no ânus.
Deixe a vagina livre para o diabo que te carregue!
Terminado o ritual, apresse-se.
Há ainda bilhões de vidas para serem destruídas...
Resta-lhe pouco tempo.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Luciana ou Pseudo-Soneto

Com que alegria contemplo teu rosto
E em que euforia admito teu olhar...!
Na boca finjo conhecer o gosto,
O afago mítico de um falso beijar.

Se não me olhas, mata-me em desgosto.
Será que sentes meu coração palpitar?
Anseio-te linda! Sigo entregue e exposto...
Oceano apaixonante onde tenciono naufragar.

Desejo-te num querer imaculado, impoluto!
Contra impulsos carnais, em vão, luto.
Mas como ei de vencer tua essência praiana
Se nesse combate prefiro mil vezes fenecer?

Basta! Ao teu feitiço ei de me render:
Oscular-te-ei inteira, deidade Luciana.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Selvageria

A mulher, ao brinco;
O homem, ao gol.

Buscamos todos,
Atingimos, alguns.

A lei da selva
Sem selva não há?

i†Ω‽•€!

Se o trabalho dignifica
Por que não sou digno de nada?

“Bad Server!” O mundo é maior que eu.
Perdoem-me. Estou logado novamente.

domingo, 28 de novembro de 2010

O Sonho

            Odisséia delirante
            São laços feito nó
            Viagem fascinante
            É uma noite ou um instante
            Quando se sonha só?

            Vem lá do oriente?
            Vem vago feito luz...?
            Seu brilho é inocente
            Quando a mente está dormente
            E a visão se traduz.

            É doce feito o rio?
            Salgado feito o mar?
            É frio e arrepio
            É a vida por um fio
            Traz leveza feito ar.

            Odisséia delirante
            Vem vago feito luz
            Viagem fascinante
            É uma noite ou um instante
            E a visão se traduz.

Anne

A luz de um novo dia amanheceu
E aquele anjo lindo me apareceu
Formando um novo sol, iluminado
Você então surgiu, um ser sagrado.

Mas esse dia anoiteceu
Num tom macabro
Aquela luz escureceu
E eu fui culpado

De novo um novo dia recomeçou
E eu não vi meu anjo, me abandonou
Fugiu da minha ilha numa jangada
Deixando minha vida descontrolada

Então me conquistou
Mulher amada
De nada adiantou
Lutei por nada.

Porem minha sanidade prevaleceu
E todo aquele encanto ali morreu
Fiquei tão descontente e aliviado
Meu medo displicente foi superado

Assim aconteceu
Deu tudo errado
Tua incerteza padeceu
Sobre um reinado

Agora um novo ciclo se iniciou
Todo nosso futuro já se passou
Já vi todas as curvas desta auto-estrada
Conheço os caminhos desta jornada

Logo que começou
Pela alvorada
Senhor Destino anunciou:
Vai ser por nada.

sábado, 27 de novembro de 2010

Sigo

            Sigo.
            Não tenho outra opção.
            Não me deram outra alternativa.
            Não posso voltar.
            Não posso mudar a direção.
            Portanto, sigo.

            Cada dia sigo mais só.
            Nunca encontrei conforto ou companhia que bastasse;
            Por mais que eu tivesse, mais eu queria e,
            No entanto, não bastava, e nunca bastaria.
            Optei por só ser, ser só.
            Assim sigo.
            Sigo só.
            Só e basta.
            Basta assim.

            Sigo só,
            Rodeado de gente feia por todos os lados.
            Feios são, todos.
            Um mais feio que o outro e...
            Surpresa!
            Cada vez sigo mais admirado!
            Nunca os feios ao meu redor foram tão lindos!

            As vezes penso que o feio sou eu...

            As vezes sigo a marcha desenfreada e aleatória
            Marcha esta trilhada pelos que seguem convulsivantes para o buraco.
            Sigo.
            Só sigo.
            Sigo só.
            Só assim consigo.
            Só consigo comigo,
            Comigo só.
            Sigo o frenesi das antas pseudo-esclarecidas.
            Sigo, pois não tenho outra opção.
            Alternativas me foram abnegadas.
            Sou compelido, como a água, a seguir um curso o qual não posso escolher.
            Há uma força como a gravidade que me compele a um único caminho.
            Que me obriga e me causa medo.
            E eu me submeto...
            Submeto-me com medo a seguir,
            Só.

            Sigo o pseudo-intelectual,
            Chamo-o de mestre,
            Recebo suas notas e...
            Sou seu igual...
            Iguaria perecível para o imperecível...
            Massa com miolos desmiolada.
            Condicionada a condicionar o condicionável.
            Aqui estou! Aqui, de joelhos!
            Estupra-me, condição humana!

            Mas de súbito presto atenção naqueles ao redor...
            Como se acordasse de repente de um encanto...
            Sigo seguindo só com muitos outros solitários,
            Conjuntos individuais de coletividades afins...
            Entendo!
            Agora entendo!
            A salvação está para além de marchar para o abismo colossal,
            Esse colosso abissal para o qual
            Estou condenado a condenar o condenável!
            Salvo está aquele que cava tais buracos,
            Cada vez maiores e mais fundos.

            Ah! Eu sei!
            Sei só!
            Só eu sei!
            São grandes toupeiras os salvos!
            E as toupeiras pastoreiam a humanidade
            Que segue só,
            Só e cega,
            Cega e inerte.

            Assim segue a corja,
            Rumo ao abismo sem fim,
            Só seguem sozinhas a todos os outros solitários,
            Para o colosso abissal em forma de um grande umbigo,
            Construídos pelas toupeiras
            Dantescas e, salvas,
            Pastoras da humanidade.

Predestinado ou Sansara ou Nascido Para Morrer

Queria eu ter como destino na vida
Nascer única e exclusivamente para nada:
Nascer, viver e morrer.

Dor demasiada é nascer para algo grandioso
E, no entanto, acumular em longos anos
Uma vida grandiosamente frustrada.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Avenida das Acácias

Avenida das Acácias
Ou das Azaléias, não sei...
Ou Prado de São Paulo talvez...
Só sei que em ti sou menor do que tais flores
E tais flores em ti parecem nunca florescer.

Desfilando por teus bosques
Passeiam tuas iguais
Iguais, de fato
Iguarias, falseadas e cadavéricas
Vagueiam, enforcadas ou degoladas
Escravizadas pelo cifrão.

E é tão somente por elas,
Por estas bestas quase que clonadas
Que existem, hoje, na Avenida das Azaléias
Ou das Acácias, hoje em dia tanto faz
Inexistem as Azaléias, as Acácias, e outras mais.

Ah sereias gemelares de cabelos lambidos e ressecados
Quase que só pele com carcaça, esmalte e loção
Brincos que balançam das orelhas ao chão
Vadias e sedentas recatadas em perversão
Virgens! Todas elas... Mil vezes virgens!
E eu, maldito! Canalha! Quero-as, todas!
Amaldiçoado e sem perdão.

Ah Acácia de Azaléia, Açucena!
Não mais as vejo por aqui!
Onde estão que não as vejo?
Estarão dentro dos tais prédios? Dos mil carros?
Será esta terra um mar estéril de cinza sem vida?

Eu daqui desta avenida,
Ampla e abafada, quente e sem calor
Sou como uma ilha; cercada de gente por todos os lados
Quero morrer para encontrar minha Azaléia;
Quero perecer para encontrar minha Acácia.

Ah eu! Aqui, nesta avenida...
Tenho o mais paulista de todos os corações!